terça-feira, 2 de março de 2010

A Fuga

Ela corria desesperadamente. Não sabia do que estava fugindo, mas sabia que tinha que correr, o máximo que conseguisse. Sentia o coração bater acelerado no peito, já estava quase sem fôlego, mas não podia parar. Sentia o perigo atrás dela, era quase palpável. Se diminuísse o ritmo sabia que seria pega.
Não sabia onde estava. A noite estava fria, era uma floresta escura, não havia mais ninguém. Apenas ela, o medo e algo que a perseguia. Quanto mais corria, mais aumentava seu desespero. A vegetação seca havia arranhado seu corpo. Estava machucada, cansada, fraca. No entanto continuava correndo. O que estava acontecendo? Quem a perseguia? Um turbilhão de perguntas passava pela sua mente, mas não havia respostas, então ela corria, corria, corria.
Uma sombra negra foi se aproximando, fazendo eriçar os pelos de sua nuca. Estava chegando perto. Cada vez mais. Era uma presa indefesa, por isso acelerou ainda mais seus passos. Não sabia de onde tirava tanta força, mas era necessário. Não queria sofrer as conseqüências daquela perseguição. Seu instinto de sobrevivência falava mais alto e dava-lhe forças para continuar fugindo.
A floresta ficava cada vez mais densa e sombria, mas agora podia ouvir um barulho de água. Um rio talvez. Seguiu seu som e quando o barulho ficou bem próximo ela parou e observou. Estava na beira de um penhasco e havia um rio, mas ele ficava há mais de vinte metros abaixo, porém ele poderia salva-la. Decidiu pular e por mais que essa decisão a colocasse diante de um enorme risco, sabia que se ficasse ali iria acontecer algo muito pior.
Então virou-se, ficando de costas para o penhasco e esperou. Lágrimas escorriam de seus olhos. Sentia medo, raiva, cansaço e alívio. Alívio por que a caçada havia acabado. Se alguém acabasse com sua vida, que fosse ela própria, mas precisava saber do que estava fugindo.
O tempo parecia estar congelado. Um estranho vulto surgiu, saindo da escuridão da floresta e foi se aproximando. Era um homem alto e pálido, seus olhos vermelhos a fitavam com fúria. Ele estava cada vez mais próximo e quando percebeu o que ela estava planejando, começou a se aproximar mais rápido. Mas nada poderia impedi-la agora. Fechou os olhos e saltou, caiu suavemente e quando sentiu que havia chegado ao rio percebeu uma luz forte e ouviu alguém chamar seu nome.
Ao abrir os olhos, percebeu que estava sentada em sua cama, e sua irmã estava ao seu lado. Havia tido um pesadelo. Demorou um pouco para relaxar, estava transpirando muito e assustada. Ela respirou pausadamente, sentiu o alívio percorrer seu corpo e deitou-se novamente, mas antes de adormecer prometeu a si mesma nunca mais assistir filmes de terror antes de dormir.

Cléo

Quando fecho os olhos ainda vejo seu sorriso. E como aquela boca pequenina sorri! E seus olhos riem junto. É um sorriso sincero, cheio de felicidade e inocência.

Todo seu rosto é perfeito, os olhos de um castanho escuro, profundo, curioso, em busca de aprender sempre mais. Já me vi tantas vezes naqueles olhinhos. Seu nariz também pequenino forma um lindo conjunto com a boca. Como são lindos seus lábios, seus dentes, a voz que emana deles.

Tem cheiro de infância, de excesso de gel no cabelo quando vai ao balé, do meu perfume que ela pega escondida e que fica tão bom em sua pele. E que pele! Delicada, morena, macia, cheia de arranhões no joelho.

Curiosa, tem pressa de aprender, sede de viver e preguiça de dormir. Domina qualquer ambiente, lidera, canta, conta histórias, agita, descobre, brinca e é feliz.

Adoro observa-la tomar banho, ver suas mãos pequenas se ensaboando, lavando os cabelos, parece gente grande prendendo a respiração quando a água cai sobre seu rosto, e, quando acaba, ela sai, toda molhada, me abraça e diz que é a princesa mais cheirosa desse mundo.

E é! A princesa mais linda desse mundo, que espera o príncipe encantado e que vai comprar o que quiser quando crescer.

Quando crescer...